domingo, abril 12, 2009

A INSANIDADE DOS MONSTROS


Numa das últimas reuniões de condomínio em meu prédio, com pouquíssimos presentes, a proprietária do apartamento acima do meu, expôs o fato de que uma aranha entrara em sua moradia por um galho de uma árvore do prédio vizinho e requisitou a poda do mesmo, para evitar que "outros seres da natureza”, se aproximassem novamente de sua moradia. O vizinho abaixo, aproveitando o ensejo, pediu que o galho que chegava a sua janela, também fosse cortado.

Sendo morador da unidade situada entre ambos, afirmei que preferia preservar o galho que chegava à janela de meu apartamento, caso a poda fosse mesmo aprovada. Nada mais foi requisitado ou se apresentou como necessário para a árvore em questão ou quaisquer outras árvores que nos acolhiam em suas benfazejas sombras, partindo dos prédios vizinhos.

Os contratados para o serviço, sob ordens da síndica, iniciaram-no e rapidamente eliminaram o problema de quem o havia requisitado. Eu os alertei de que poupassem os galhos que chegavam à minha janela, já que em minha família, amamos a natureza, tendo a consciência de que ela não existe apenas para servir ao homem. Fazemos parte dela, queiram algumas pessoas encarar a realidade desta forma ou não.

Após retornar do trabalho, descobri para minha surpresa, que um dos troncos da árvore que dava sombra ao pátio também havia sido eliminado, o Fícus que ficava na parte posterior do pátio (sequer próximo ao corpo do prédio) havia sido “mutilado” e o Flamboyant à direita do pátio, havia sido cortado em todos os galhos que ultrapassassem o limite de nosso muro, mesmo sem qualquer relação com o requisitado previamente na reunião que eu comparecera - uma monstruosidade.

Os contratados então, afirmaram que receberam ordens da síndica, de eliminar todos os troncos e galhos que restavam sobre o pátio, provendo sombra a este, suprimindo vestígios de quaisquer árvores que ultrapassassem os limites do prédio ou tocassem no corpo deste, sob a alegação de evitar que folhas continuassem caindo ao chão, porque “estas poderiam entupir o ralo”. O que pensar de pessoas que acham que podem viver isolados da natureza, delimitando-a através de muros?

O playground sempre foi um lugar estéril, desprovido de conforto - um pequeno forno de piso áspero, que frita ao sol os incautos que tentam levar seus filhos para brincar, não sendo de admirar que tão poucos pais o façam. A escassa sombra de que dispunha, se originava da benesse de estar cercado pelas árvores vizinhas, que proviam sombra e beleza. Hoje, estas foram totalmente devastadas pela insanidade de quem prefere cimento ao verde. Destruiu-se o que de verde podia restar sobre ele. Não resta dúvida de que há loucura para tudo.

As árvores vizinhas não pertenciam ao nosso terreno, mas desprezar a sombra e beleza que elas nos proporcionaram graciosamente durante todo este tempo, foi uma ação covarde, de quem provavelmente já se encontra morto por dentro, desprovido de qualquer sensibilidade e humanidade, um ato de alguém sem vida, contra seres magníficos que não podem se defender e que nenhum mal proporcionaram.

Pagar sombra e beleza com o corte da serra, numa época onde áreas verdes já escasseiam e em todo o planeta a ordem é plantar, demonstra como este tipo de gente prefere dar seu toque pessoal ao incremento da imbecilidade humana. A NATUREZA torna-se em suas bocas, uma palavra distante, evocada apenas quando lhes convêm. Pessoas assim, ao partirem, não fazem qualquer falta ao mundo e são por ele apagadas, como um acidente a ser esquecido. Que Nêmesis, a deusa grega que provia a natureza de um ético equilíbrio, não tarde a dar sua última palavra. As árvores clamam por sua justiça.
Lucio Abbondati Junior

quarta-feira, abril 01, 2009

O VALOR DE SE LER LIVROS

Li, estarrecido, a pergunta feita por uma moça no setor de perguntas e respostas do Yahoo, onde ela queria saber de que serviria ler um livro, que utilidade teria para alguém e fui levado a refletir sobre o papel tão importante que a leitura tem para o desenvolvimento de uma pessoa, o que muitas vezes não é ressaltado além da simples afirmação de que ler é bom para a cultura geral.

Ao concluir sua resposta, percebi que esta é uma questão levantada por pessoas que não lêem com frequência ou que de forma alguma olham os livros como amigos queridos. A razão para esta ocorrência é clara – as escolas não estimulam a leitura pelo prazer extraordinário que pode proporcionar e sim, por que consta no currículo como um entulho que deve ser empurrado para os alunos, estejam eles preparados ou não. O prazer e a curiosidade raríssimas vezes são levadas em conta. Toda a ênfase se encontra no cumprimento do currículo e não, na formação de vorazes leitores.

Para aqueles que desconhecem a “fisiologia da leitura”, aqui vai uma breve explanação:

Ler livros é muito mais do que recolher informação através de palavras num texto. Há um aumento extraordinário no desempenho do cérebro humano no estabelecimento de novas sinapses durante a conversão de simples palavras em imagens, sons, sensações e evocação de memórias. Para que um texto faça sentido, o cérebro não apenas reconhece as palavras - atribui um significado a cada uma delas, separando uma imagem a qual ela se relacione e um som que ela evoque, concatenando simples letras em um papel para compor um quadro que faça um sentido. Tudo isso segue para o registro de informações, interligando todos os sentidos à memorização, compreensão, análise emocional e percepção. Quando se lê um texto sobre Nova Iorque, vê-se a cidade, ouve-se o seu som, percebe-se o seu cheiro e sensações, se sentindo presente na cidade americana. Nenhuma das mídias proporciona isso.

Vorazes leitores formam cérebros privilegiados, muitas vezes, capazes de acionar vários centros cerebrais simultaneamente, para resolver quaisquer situações, uma vez que as vias de comunicação já estão treinadas para imaginar. Einstein dizia que a imaginação é mais importante que o conhecimento. O livro é uma academia de ginástica para o cérebro!!!

Um filme, diferente disso, entrega tudo pronto: som e imagem já selecionados, sem deixar nada para que o cérebro imagine. Um livro permitirá ver, ouvir, sentir, provar e se emocionar com algo que só aquela pessoa verá, numa experiência exclusiva (e às vezes, muito melhor do que um cineasta filmou em uma versão). É como emprestar a imaginação para viver uma outra existência, com todas as sensações. Nada se compara.

Ler livros pode fazer toda a diferença entre aquele que é capaz de imaginar possibilidades em sua vida, com riqueza e fartura de opções e aquele que recebe tudo pronto e selecionado por alguém - um "pau mandado". Ler determina maior riqueza nas opções do viver. Textos muito curtos ou palavras soltas, não proporcionam estes benefícios.

Para aqueles que acharem isto interessante, sugiro comecem a ler livros sobre todos os assuntos que costumam interessar-lhes. Leiam muito, com continuidade, estimulando sua curiosidade e expandindo os seus horizontes. Os resultados práticos desta "prazerosa ginástica mental", não tardarão a aparecer.

Boa leitura e uma ótima existência a todos!

Lucio Abbondati Junior

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