sábado, março 31, 2012

O PRAZER DA LEITURA

Vi nos jornais desta semana, que os brasileiros lêem cerca de dois livros por ano (assim mesmo, um deles incompleto), sendo que pela mesma matéria, aprendo que dentre todos, a Bíblia foi a obra mais lida. Uma vez que ela não é um romance a ser lido como uma história, com início, meio e fim, teremos então que aceitar a dura realidade, de que na verdade, não devem estar lendo um livro inteiro sequer por ano.

A pergunta que ninguém faz, é por que os brasileiros leriam mais, se são forçados desde cedo a odiar os livros, pela compulsoriedade com que estes são tratados nas escolas? Lá, crianças são levadas a força, a engolir o cardápio de obras escolhido pelo programa do Ministério da Educação, com direito a ter seu conteúdo cobrado em prova e testes. São obras que, afirmam os pedagogos de plantão, foram escolhidas por seu conteúdo “literário relevante”. Seguem estes a mesma cartilha usada no preparo da comida de um hospital – nutritiva, mas com sabor invariavelmente intragável.

Como incentivador da leitura, o MEC continua um zero a esquerda. Sua ementa não cogita em momento algum, incentivar o prazer pela leitura, a alegria pela descoberta ou a beleza de se poder visualizar imagens através das palavras. O ministério não parece considerar isto relevante ou educativo. Como querem então, que brasileiros leiam mais?

Ninguém atentou ainda por lá, que o fato mais marcante da literatura do fim do século XX e início do XXI, foi o despertar da voracidade pelos livros entre os jovens, ocasionada pela série Harry Potter, da escritora inglesa J.K. Rowling. Ela fez com que estes avançassem felizes sobre volumes com 500 ou 600 páginas, sem serem obrigados a isso. E tal como já ocorrera nas décadas de 40 ou 50 com “O Senhor dos Anéis” de J.R.R. Tolkien, muitos autores recentes continuaram incentivando a leitura pelo prazer, como “A saga crepúsculo”, da autora Stephanie Meyer (2005), “Percy Jackson e os olimpianos”, de Rick Riordan (2005) e “Jogos Vorazes“, da escritora Suzanne Collins (2008), podendo também citar aqui os brasileiros, Paulo Coelho e Thalita Rebouças.

Estes livros vendem milhões de exemplares em todo o mundo, sem a compulsoriedade escolar, transformando alegres compradores em vorazes leitores.

Muitos deles até foram filmados posteriormente, possibilitando estabelecer uma comparação entre as duas mídias. E qual não foi a agradável surpresa, ao descobrir que aos olhos de seus leitores, os livros foram considerados muito melhores, mostrando a relevância da palavra escrita como essencial incentivadora da imaginação e do prazer pessoal.

Os verdadeiros “universos” literários, são lugares vastos e intrigantes, que estimulam seus leitores a explorá-los. Não importam apenas pela forma como são escritos (o aspecto mais ressaltado nas salas de aula), mas também pelo que permitem ao leitor visualizar em suas mentes. Limitar sua indicação a isso nas escolas,,é como valorizar mais os andaimes de uma construção, em detrimento do prédio em si.

É na paixão pelo imaginar, esquecida nas ementas escolares, que repousa o interesse e a atração pelos livros, que leva adultos a rejuvenecerem suas idéias e crianças a amadurecer seus conceitos. Ler, cogitar, trocar idéias e discutir sobre livros, são práticas de pessoas apaixonadas pelo assunto. Converter isto em uma obrigação, é como exigir que uma criança brinque à força. Ela odiará.

Pessoas como eu, minha esposa e filhos, que procuramos livrarias atrás do próximo “universo fascinante”, sequer são levadas em conta pelos números oficiais, pois ler de cinco a oito livros por mês, pelo prazer que proporcionam, nos torna apenas uma aberração estatística. Sobreviventes que somos da má prática escolar, nos tornamos vorazes leitores unicamente por que nossos pais ouviram nossos interesses e nos alimentaram com obras que pudessem nos encantar.

E tal como aconteceu conosco, outros sobreviventes também fizeram da leitura um hábito delicioso. Somos exceções que poderiam se tornar a regra, se a conduta escolar valorizasse mais o interesse e a imaginação, do que apenas a vertente literária em que foi classificada cada autor e sua obra.

Lucio Abbondati Junior

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